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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

96% dos alunos com nível ruim em Matemática


Cidade - 3º ANO - 08.02.2012


A ONG Todos pela Educação divulgou a pesquisa ´De Olho nas Metas 2011´, que avalia a qualidade do ensino

Estar fisicamente presente na sala de aula não é mais sinônimo de que a população está aprendendo os conteúdos repassados. O problema seria mesmo a qualidade do ensino ofertado. Uma pesquisa anual divulgada ontem pela organização não-governamental (ONG) Todos pela Educação denunciou algo bem grave: apesar do Ceará estar na 3ª posição nacional, com melhores índices de universalização do acesso, com 87% de taxa de atendimento, os níveis de aprendizagem estão ruins, diz o estudo.

O entrave estaria sendo, principalmente, com a língua portuguesa e a Matemática. Na área de exatas, os estudantes do 3º ano do Ensino Médio na rede pública, por exemplo, obtiveram notas vermelhas durante todo o ano: 96,5% deles não conseguiram alcançar um nível considerado adequado pela ONG. A triste situação se repete com o Português; 80,65% tiveram desempenho ruim. Neste cenário, maioria dos jovens tem saído da escola sem saber ler e contar.

Este relatório anual possui o intuito de acompanhar os indicadores educacionais ligados às cinco metas estabelecidas pelo Todos Pela Educação para serem cumpridas até 2022. A primeira meta é chegar ao índice de 98% ou mais das crianças e jovens de 4 a 17 anos matriculados e frequentando a escola no prazo de dez anos. O Ceará ainda está longe, faltam 11 pontos.

Como conseguirão, então, enfrentar o concorrido e exigente mercado de trabalho se estão saindo tão despreparados e com baixo nível de cognição e saber?

Dificuldades

Infelizmente, a pesquisa aponta ainda várias fragilidades. O problema do abandono dos estudos ainda é grave. Conforme a ONG, 8% dos estudantes cearenses estão fora da escola, na faixa etária entre 4 e 17 anos. São mais de 160 mil meninos e meninas que poderiam estar abrindo a mente para o conhecimento e estão, muitas vezes, perdendo o rumo.

Na idade entre 15 e 17 anos, o índice é bem maior. São 18% deles que não frequentam à escola. Para agravar a situação, é justo nesta fase, no ensino médio, o maior índice de distorção idade-série. Um total de 59% dos estudantes está concluindo o ensino fora da idade certa, de 19 anos.

Capital

Fortaleza também tem feito feio, conforme o estudo, com relação ao cumprimento dos índices da ONG. Com relação à meta 3 - aquela que se refere à aprendizagem de Português e Matemática - 75,3% dos alunos do 5º ano, na matéria de redação, não atingiram, entretanto, os índices de aprendizagem e 81,5% não tiveram êxito nas áreas de exata.

Com relação ao 9º ano na rede pública municipal, 91,9% dos alunos da Capital, que estão estudando Português, por exemplo, não atingiram as metas de aprendizagem e 78% em Matemática.

Nacionalmente, a tendência segue a mesma do Ceará. Apenas 42,8% dos alunos que concluem o 3º ano do ensino fundamental têm as habilidades em Matemática esperadas para a série referida. Estão defasa

Para a professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), doutora na área de Educação, Xênia Diógenes, a pesquisa aponta uma realidade que nem sempre é clara nas pesquisas feitas pelos governos e retrata a complexa relação entre a universalização do ensino público e a conquista da qualidade da educação.

"O grande desafio não é mais o acesso. Isso estaria quase superado. Entretanto, não basta só pôr a criança na escola. A instituição de ensino tem, sim, que corresponder à expectativa de conhecimento. O problema está na política, na gestão da escola, na falta de planejamento", critica.

A professora comenta, ainda, que é preciso reinventar os processos, trazer situações de aprendizagem que tenham mais significados para o estudante. "A gente ainda permanece com uma política que não dá conta de oferecer tempo para o professor ter formação dirigida para a mudança dos quadros. Na teoria, já temos bons avanços de conceitos. Mas, efetivamente boas práticas não se deram. Há um vácuo entre o conceito e realidade", diz.

O orientador da célula de estudos e pesquisa da Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), Daniel Lavor, lamenta a situação. Ele relata ainda que a piora nos índices de aprendizagem se deve também à universalização. "Temos mais alunos nas escolas. Entre os bons, temos muitos outros bem fracos que, nos outros Estados, são desestimulados a abandonarem os estudos", diz.

Entretanto, Lavor espera a melhora dos resultados já nesse ano. Ele afirma que há em curso uma iniciativa, segundo ele, muito importante que tem preparado os meninos e meninas já no primeiro ano do ensino médio. "Ainda precisamos continuar investindo. Mas estamos melhorando, sim. Pegamos um histórico ruim de alunos fracos, negligenciados por outros governadores", explica o técnico.

Ainda sobre a pesquisa, a Secretaria Municipal de Educação (SME) não quis se pronunciar, disse não ter conhecimento do estudo e só iria se pronunciar após acessar o documento.

SAIBA MAIS

Com taxa de atendimento escolar, entre quatro e 17 anos, de 87,1%, o Ceará ocupa a 3ª melhor posição nacional em relação ao acesso.

Entretanto, de um montante de 2.040.738 estudantes matriculados, 8% desses, 160.788, estão fora da sala de aula no Ceará
.
Na idade entre 15 e 17 anos, a evasão é maior ainda, de 18,4% com relação à aprendizagem, 77,9% dos alunos do 5º ano da rede pública estão abaixo do nível adequado na língua portuguesa. Em Matemática, o nível é pior, de 82,7% de reprovação.

Um total de 83,6% dos alunos do 9º ano da rede pública, por exemplo, estão com rendimento ruim em Português. Com relação à área de exatas, 93,8% vão mal.

No ensino médio, a situação piora. 96,5% dos estudantes estão com rendimento ruim em Matemática e 80,6% em Português.

Um total de 58,9% dos alunos do ensino médio não estão se formando na idade certa, 19 anos, no máximo.

Pesquisa

18% dos adolescentes cearenses entre 15 e 17 anos estão fora da escola. Também nesta fase se constata o maior índice de distorção idade-série.

IVNA GIRÃO
REPÓRTER

Creches vão ser agilizadas

MEC 08/02/2012 - 01h30

Será sugerida a utilização de unidades pré-moldadas, com modelo ainda a ser definido
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, atribuiu aos municípios a responsabilidade pela lentidão na construção das creches e unidades de pré-escola, uma das metas de governo da presidente Dilma Rousseff. Por isso, vão ser propostos agora “novos métodos construtivos” para agilizar os serviços. As novas medidas foram anunciadas em Brasília pelo ministro, no mesmo dia da divulgação de indicadores que apontaram deficiências na educação brasileira.

Afirmou ainda que sua pasta está efetuando os repasses para a construção de creches, mas que os municípios estão em um ritmo diferente, que atrasa o processo e ameaça atingir a meta de 6.400 unidades construídas, entre creches e pré-escolas, porque o MEC considera as duas faixas etárias em uma única classificação: educação infantil.


Por isso, será sugerida a adoção de métodos construtivos, como a utilização de unidades pré-moldadas: o modelo adotado ainda vai ser definido. A previsão do governo é que a duração das obras nesse caso passe para seis meses.


O MEC pretende no segundo semestre lançar uma tomada de preço para a construção das creches em todo o País, em um modelo parecido com a de compra de ônibus escolares e dos tablets. (das agências de notícias)

O quê


ENTENDA A NOTÍCIA


Com a reação do ministro à lentidão na construção de creches - a primeira crise de sua ainda curta gestão -Mercadante pretende compartilhar com as administrações locais possíveis ônus políticos. Justamente em uma área de declarada prioridade do governo Dilma

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Especialista defende serviço psicológico


Cidade - PARA EDUCADORES - Para médico, problema dos professores faz parte de um quadro complexo de questões econômicas e sociais


03.02.2012


Os problemas decorrentes do ambiente estressante são incluídos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na classificação internacional de doenças, lembra o psiquiatra Orlando Monteiro. Para ele, a problemática vivenciada pelos professores está inserida em um quadro complexo, no qual se destacam questões econômicas, sociais, desajustes familiares, uso de drogas e banalização da violência. "Em Medicina, costumamos cuidar não apenas do doente, mas também do contexto no qual ele está inserido", frisou.

Os professores da rede pública, via de regra, fazem parte do sofrimento de um grupo, que inclui os alunos e a sua família, "que, muitas vezes, não consegue educar seus filhos e passa para a escola essa tarefa".

O psiquiatra reconhece que o estresse, a angústia, a ansiedade e, até mesmo, o pânico estão inseridos no dia a dia de muitos educadores da rede pública de ensino. "É preciso fazer um trabalho mais amplo com a sociedade e estudar estratégias que permitam esses profissionais exercerem o seu trabalho", comentou o especialista.

O médico também propôs a criação de um serviço de assistência psicológica para esses professores, "pois há situações nas quais não bastam o afastamento temporário ou a transferência para outras funções".

Preocupação

O presidente do Sindicato dos Professores e Servidores da Educação do Ceará (Apeoc), Anísio Melo, cita que a entidade já solicitou às redes municipal e estadual de ensino um debate sobre os números relativos ao afastamento de professores da sala de aula. "Devemos analisar as causas e procurar a solução".

Segundo ele, na categoria, vem sendo identificados, principalmente, problemas de voz e um grande número de doenças psíquicas, tais como estresse, depressão e a Síndrome de Burnout, que é um distúrbio psicológico ocasionado pelo esgotamento físico e mental. "A carga horária excessiva - manhã, tarde e noite -, a falta de valorização profissional, os conflitos e violência nas escolas motivam as licenças médicas", observou o presidente da Apeoc.

A situação resulta na contratação na rede pública de professores substitutos. Anízio Melo informa que, na rede estadual de ensino, atuam, aproximadamente, 23 mil professores. Contudo, desses, 11 mil são temporários. No Município, são cerca de 10 mil educadores, dos quais 4 mil possuem contratos de prestação de serviço.

Professores lideram pedidos de licença médica na Capital


Cidade - SITUAÇÕES DE ESTRESSE - 03.02.2012

Levantamento do IPM indica que, além de patologias da voz, esses profissionais sofrem de depressão e neurose


Um dos maiores vilões para o exercício do magistério, o giz, entrou em desuso, em algumas escolas da rede pública, há pelo menos uma década. Contudo, na difícil tarefa de transmitir o conhecimento, outros vilões persistiram ou despontaram e são, hoje, os responsáveis por tornar o educador o profissional que mais se ausenta do trabalho devido às questões de saúde.

Em Fortaleza, os professores da rede pública lideram os pedidos de licença médica e de transferência de função, conforme levantamento do Instituto de Previdência do Município (IPM). No ano passado, a Junta Médica do IPM realizou 19.415 atendimentos. A licença médica foi a principal demanda, sendo concedidas, no período, um total de 10.561. Entre os servidores municipais atendidos, sobressaíram-se os professores, para os quais foram concedidas 4.921 licenças e 591 readaptações.

Saúde

Apesar de, no Município de Fortaleza, os professores serem maioria (chegam a quase 35 mil servidores), o levantamento indica que a categoria tem um quadro de saúde preocupante, admite a coordenadora da Junta Médica do IPM, Auxiliadora Gadelha. As patologias decorrentes do uso excessivo da voz lideram entre os problemas físicos. Já as neuroses, depressões e síndrome do pânico são as questões psíquicas mais comuns.

"Tem profissional que entra em pânico ao se deparar, em sala de aula, com a problemática de crianças pobres, com famílias desestruturadas, que muitas vezes usam drogas ou até mesmo são agressivas", observa a médica do IPM. Quanto às doenças da voz, ela cita as disfonias, laringites e pólipos focais.

Também a chefe da equipe lotação de pessoal da Secretaria de Educação do Município, Leuma Asfor, reconhece o grande número de pedidos de afastamentos do trabalho por parte do professores da rede pública. "Hoje, o educador não tem nem vez nem voz", reclama, explicando ser difícil, em muitas situações, conter crianças e adolescentes indisciplinados. "Algumas são mesmo violentas. Chegam a ameaçar o professor, até mesmo devido à nota baixa que recebem", conta ela.

Leuma Asfor confirma não serem raros os pedidos de afastamentos motivados pelas ameaças de morte por parte de estudantes que tiveram contrariedades de pouca relevância. "Alguns alunos cumprem regime de liberdade assistida", lembra, adiantando que os conflitos registrados na escola, muitas vezes, são apenas uma decorrência do que já existe dentro de casa. "Isso e a carga horária excessiva provocam uma situação de muito estresse", comenta.

O quadro de aflição e temor vivenciado por muitos professores foi facilmente comprovado pela reportagem em uma rápida visita a escolas da rede pública. Embora, de um modo em geral, a diretoria dos estabelecimentos de ensino fizessem questão de negar as ocorrências de conflitos, alguns professores admitiram o problema. Porém, temerosos de represálias por parte dos alunos, preferiram omitir a sua identidade.

Agressões

"A gente vive em estresse contínuo", afirma um professor de Educação Física da rede municipal e estadual, relatando que um aluno já tentou arremessar contra ele um tijolo, sem nenhum motivo aparente. "Ele brigava com facilidade com os colegas e até tinha chutado uma garota. Noutra ocasião, recebeu ameaça de morte de um estudante que ele levou para a direção devido à indisciplina e por se negar a fazer suas tarefas. O professor chegou a fazer um Boletim de Ocorrência na Delegacia, mas retirou o BO ao saber que o adolescente, residente no bairro Tancredo Neves, era envolvido com drogas. Eu tive até problemas digestivos, refluxo. É uma situação pesada", relata.

Medo, palpitações cardíacas e estresse foram os principais tormentos vivenciados por uma professora de uma escola do bairro do Mucuripe após ser ameaçada de morte. Ela recorda que um aluno, anonimamente, fez chegar às suas mãos um bilhete contendo desenho de uma pessoa sendo perfurada com um punhal, inclusive nos órgãos genitais. Apavorada, pediu licença e nunca mais retornou àquela unidade. "Não houve sequer uma investigação para se descobrir o autor dos desenhos", lamenta ela, lembrando que também tem doenças nas cordas vocais.



Escola realiza trabalho para conscientizar

A vice-diretora da Escola Municipal do Ensino Infantil e Fundamental (EMEIF) José Ramos Torres de Melo, Janaína Silva, garante que, nesta unidade da rede pública municipal, localizada no bairro do Mucuripe e em área de abrangência da Secretaria Regional II (SER II), não são identificados conflitos entre os alunos e professores.

A escola, atualmente, vem desenvolvendo a Campanha "Respeito é bom e eu gosto" como uma das estratégias para conscientizar os alunos quanto aos valores morais necessários a um boa convivência na escola. "A gente procura incutir no aluno a importância de uma boa convivência com os colegas, professores e funcionários", cita.

Problemas vocais

Contudo, adiantou, são comuns problemas de voz entre os educadores. Fenda glótica e calos nas cordas vocais destacam-se, já tendo provocado o afastamento de alguns profissionais das atividades. "Eles precisam falar muito com os alunos e terminam comprometendo a voz", afirma.

MOZARLY ALMEIDA
REPÓRTER